segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O rodeio dos preconceituosos

Temos sido bombardeados com notícias que relatam atos bárbaros cometidos por jovens estudantes. Há pouco mais de um ano, tivemos o caso da garota que quase foi agredida fisicamente por seus colegas ao usar um vestido curto. Nesta semana foi noticiada a agressão cometida contra um estudante homossexual, numa festa promovida pela Escola de Comunicação e Artes da USP; é inacreditável que a vanguardista ECA e homofobia caibam numa mesma frase. No país todo, e em vários níveis de ensino, somos informados sobre jovens agredindo seus professores, atirando pedra em diretora, destruindo carteiras e portando armas dentro do ambiente escolar.

E agora outro absurdo, jovens da Universidade Estadual Paulista praticam o que chamam “Rodeio das Gordas”, em que imobilizam colegas obesas, por brincadeira, segundo disseram. É a barbaridade ao quadrado, a falta de senso de um rodeio multiplicada pela agressão ao ser humano.

Lendo declarações do “líder” do evento, percebemos que ele não tem noção da extensão do que praticou; alega ter feito brincadeira, e estranha sua repercussão nos jornais. Cristo pediu ao Pai que perdoasse seus algozes por não saberem o que faziam. Dois mil anos depois, e guardadas as proporções, vemos que esses jovens também não sabem o que fazem. Quando aprenderão?

Brincadeira pode, evidentemente, ser provocação bem humorada entre amigos. Quando se fere a autoestima e a dignidade de outras pessoas, em atos que podem ter implicações para toda uma vida, não se trata de diversão, o nome disso é crime. Quando crianças brincam, estão simulando o mundo adulto. Em que planeta essas crianças de vinte e poucos anos querem viver?

Chama-se bulling à violência contínua, física ou emocional, exercida por uma pessoa ou um grupo sobre alguém mais frágil. Este comportamento ocorre em agremiações esportivas, em ambientes de trabalho, em qualquer lugar onde as pessoas convivem cotidianamente. No entanto, tal violência nas escolas tem atingido dimensões epidêmicas; mais graves por ocorrer com crianças e jovens, em fase de formação e mais suscetíveis a consequências permanentes.

No ambiente escolar, a imposição de apelidos degradantes, a coerção, a violência, muitas vezes levam ao abandono dos estudos ou isolamento social de alguns estudantes. Quando estudantes praticam bullying contra algum colega, geralmente o fazem explorando uma vantagem desproporcional: estão em maior número, são mais fortes fisicamente, o colega é “diferente” e, portanto, tem contra si a opinião dos demais. Estes ataques ocorrem também através de redes de relacionamento, e, embora virtuais, não deixam de ser profundamente doloridos.

Ainda que tenhamos acesso diário a textos e preleções bem intencionados sobre a igualdade, a não discriminação e à consideração pelo Outro, estamos assistindo inertes à formação de jovens preconceituosos, que não toleram a diferença e que veem no assédio moral – quando não na simples selvageria – uma forma eficiente de resolver suas próprias questões de adaptação. Num mundo cada vez mais povoado e globalizado, esta parece ser a forma escolhida pelos jovens para destacar-se da multidão, ao mesmo tempo em que reafirmam seus laços com um pequeno grupo de “iguais”, que odeiam e ferem os desiguais.

Preocupante o modelo de comportamento assumido por estes rapazes e garotas. Famílias e escolas, juntas, devem tratar deste assunto, pois apenas uma delas dificilmente chegará a propostas efetivas para conter este mal e realizar uma verdadeira ação educativa. É preciso combater a ditadura da mediocridade, do preconceito e da intolerância.

Por Wanda Camargo – Comissão do Processo Seletivo - Faculdades Integradas do Brasil - UniBrasil

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